Temos vivido dias
atípicos, constrangidos a reaprender a viver de outro modo, temporariamente.
Urge o cumprimento de planos de contingência, onde devemos respeitar decisões
difíceis de tomar, que existem exclusivamente para nossa protecção e, de forma
nenhuma, têm a intenção de agravar a ansiedade geral da população. Enquanto
meia comunidade continua na rua, correndo riscos obrigatórios no sentido de
ajudar a cuidar e proteger, a outra metade está de quarentena, em casa. Tenho
recebido muitos pedidos de orientação sobre como lidar com a ansiedade, em
ambiente doméstico. Partilho algumas sugestões que, sendo óbvias, podem estar
escondidas por baixo do manto da tensão.
Estar na posição
de isolamento social tem um pendor muito duro e pode levar-nos a pensar que é
impossível de gerir. Atentemos que esta medida existe para nossa segurança e
não é um castigo. É essencial não avaliarmos estes dias como uma “contagem”. Há
quem avalie os dias como sendo dias “de guerra” ou que ao dia x ainda nos pesa
o facto de faltarem outros tantos. Esta abordagem não é positiva, agravando a urgência
de que passem estes dias de “prisão”, acrescido do facto de que não sabemos
como será o dia de amanhã. Pelo nosso bem-estar e de quem nos rodeia, convém investirmos
na harmonia emocional, tendo dinamismo físico e psicológico, tanto quanto
possível.
As rotinas são importantes, mantendo horas de
sono regulares, aproveitando para trabalhar em horários normais, sempre que tal
seja exequível, reservando alturas próprias para fazer actividades físicas e
intelectuais e organizando-se, quando for necessário sair para reabastecer
recursos.
Ao nível físico,
mesmo num espaço mais limitado, podemos manter-nos activos. Dançar, cantar, fazer
exercícios (estilo livre ou com orientação de vídeos), ioga, etc. As varandas e
pátios servem para repor a dose de vitamina D, podendo ainda ir passear os
animais domésticos, com as devidas precauções. Mais ainda, este momento pode
ser visto como uma oportunidade de reorganizar armários ou descongelar o congelador,
dando como cumpridas as tarefas em espera.
Intelectualmente,
é possível mantermo-nos produtivos. Podemos investir na formação profissional
ou em algo que sempre quisemos aprender, através de com cursos online (diversos
com oferta gratuita), investir em passatempos novos ou até experimentar novas
receitas.
O lazer brinda-nos com uma miríade de opções,
relembro que para as
quais nos queixamos, regularmente, não ter tempo!
Ver séries, ouvir música,
colocar a leitura em dia, jogar, o tempo não será suficiente para tudo. A meditação
pode ocupar um lugar importante, sendo que, realizada de forma regular, pode
trazer-nos um impacto emocional e cerebral muito saudável. Escrever é um exercício
libertador emocionalmente, seja por associação livre ou em texto com conteúdo,
como manter um diário. Podemos descrever como nos sentimos, mas tenhamos a
atenção de divagar sobre pontos positivos, como a saúde na família, o estarmos
bem, algo de saboroso que cozinhamos, uma boa noite de sono, uma conversa que deixou de estar adiada e que encheu a nossa alma ou um momento de brincadeira com os filhos.
A comunicação assertiva
e respeitosa sempre foi primordial e, nos próximos tempos, pode ser a chave de
ouro. Embora se viva sob o mesmo teto, é preciso usar a convivência a nosso
favor e respeitar a privacidade, dentro do possível, sempre que necessário. Se
pensarmos na tensão familiar que pauta alturas como o Natal, em que estamos
muito menos tempo juntos, torna-se evidente que esta fase poderá ser exigente.
Assim, ganha terreno a resiliência ao gerir a ansiedade e a frustração de todas
as pessoas dentro de casa, bem como a nossa. Iremos aprofundar este tema, num futuro próximo!
Outro ponto
muito poderoso é a boa gestão da internet. Recebemos informação constantemente,
seja em jeito de alerta, de alarmismo, informativo ou cómico, estamos muito
sujeitos aos estímulos da actual situação. Da mesma forma que urge estarmos
atentos e informados, é igualmente relevante manter um apaziguamento mental,
investindo neste equilíbrio salutar. Vivemos numa época privilegiada, em que o
isolamento pode ser adoçado pelo contacto online com uma parte significativa da
nossa vida, sejam recursos de lazer, profissionais, sociais ou pessoais. Esta ferramenta
mitiga o peso do distanciamento.
Continuamos em
contacto com as pessoas ao nosso redor, enviando abraços telefónicos a familiares,
sabendo de vizinhos menos acompanhados, ouvindo palavras amigas de saudosas
relações. Iremos, deste modo, mantendo-nos informados entre todos,
disponibilizando a entreajuda possível, e mais ainda, conversando sobre outros
temas ou partilhando um lanche em conferência online, para acalmar o estômago e
o coração.
Percebo que nem
sempre será simples conseguir seguir estas dicas, uma vez que estamos
apreensivos e alerta. Contudo, priorizar nosso bem-estar pode ser das melhores
garantias de que esta situação será ultrapassada o melhor possível. Cada um de
nós terá as suas estratégias e preferências, mas tentemos usufruir com inteligência
do tempo que esta difícil fase está a disponibilizar. Existe uma
responsabilidade social de distanciamento, mas um dever moral de estarmos
presentes na vida uns dos outros, mesmo que à distância de uma chamada, se se
sentir capaz de dar uma palavra amiga. Devemos ser capazes de pedir ajuda, se
sentirmos essa necessidade. Existe apoio psicológico disponível, através de
várias plataformas, caso sinta que, mesmo esforçando-se por manter bons hábitos
de vida, o mal-estar persiste.
Respeitemo-nos enquanto humanidade,
partilhemos apoio
emocional e cuidemos de nós.
Desta forma, estamos a retirar o impacto
psicológico negativo a um vírus que está a descontrolar-nos emocionalmente, e,
apesar do momento tão grave e delicado, vamos sentir-nos um pouco mais seguros
no abraço humano psicológico que somos capazes de dar (daqueles que não exige
toque, apenas compaixão).
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